Um dia uma grande amiga me dizia que admirava as pessoas que viviam de pernas para o ar… Lendo o livro de Carlos Drummond de Andrade A Cor de Cada Um, encontrei uma pequena crônica que parece ter sido escrito aos capoeiristas. Aqui deixo as palavras deste grande poeta:
“OS DIFERENTES
Descobriu-se na Oceania, mais precisamente na ilha de Ossevaolep, um povo primitivo, que anda de cabeça para baixo e tem vida organizada.
É aparentemente um povo feliz, de cabeça muito sólida e mãos reforçadas. Vendo tudo ao contrário, não perde tempo, entretanto, em refutar a visão normal do mundo. E o que eles dizem com os pés dá impressão de serem coisas aladas, cheias de sabedoria.
Uma comissão de cientistas europeus e americanos estuda a linguagem desses homens e mulheres, não tendo chegado ainda a conclusões publicáveis. Alguns professores tentaram imitar esses nativos e foram recolhidos ao hospital da ilha. Os cabecentes-para-baixo, como foram denominados à falta de melhor classificação, têm vida longa e desconhecem a gripe e a depressão”.
Carlos Drummond de Andrade
Fico a pensar o que nos faz capoeirista? Até posso ficar gripada, mas nunca tive depressão…