Dia da Terra

Para homenagear o Dia da Terra, uma música do Beto Guedes:

O Sal da Terra

Beto Guedes

Anda!   Quero te dizer nenhum segredo. Falo nesse chão, da nossa casa.   Vem que tá na hora de arrumar…

Tempo!   Quero viver mais duzentos anos.   Quero não ferir meu semelhante.   Nem por isso quero me ferir.

Vamos precisar de todo mundo.   Prá banir do mundo a opressão.   Para construir a vida nova.   Vamos precisar de muito amor.   A felicidade mora ao lado.  E quem não é tolo pode ver…

A paz na Terra, amor.   O pé na terra.   A paz na Terra, amor.   O sal da…

Terra!   És o mais bonito dos planetas.   Tão te maltratando por dinheiro.   Tu que és a nave nossa irmã.

Canta!   Leva tua vida em harmonia.   E nos alimenta com seus frutos.   Tu que és do homem, a maçã…

Vamos precisar de todo mundo. Um mais um é sempre mais que dois. Prá melhor juntar as nossas forças.   É só repartir melhor o pão.   Recriar o paraíso agora.   Para merecer quem vem depois…

Deixa nascer, o amor.   Deixa fluir, o amor.   Deixa crescer, o amor.   Deixa viver, o amor.   O sal da terra.

Saudade da Bahia

Vez em quando me bate um banzo de Salvador.

Saudade de suas paisagens, saudade do Mestre Nô, de meus amigos, saudade do povo soteropolitano de ser!

Fico a escutar músicas do grande Dorival Caymmi.

E o sentimento é transformado em lágrimas de saudade!

Em outras vidas fui ou serei baiana também!

 

Poesia de Manoel de Barros

O Menino Que Carregava Água Na Peneira

“Tenho um livro sobre águas e meninos.

Gostei mais de um menino que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água.

O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.

Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio.

Falava que os vazios são maiores e até infinitos.

Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito porque gostava de carregar água na peneira.

Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu que era capaz de ser noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.

Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.

E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro botando ponto final na frase.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.

O menino fazia prodígios.

Até fez uma pedra dar flor!

A mãe reparava o menino com ternura.

A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta.

Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os vazios com as suas peraltagens e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos”.

Manoel de Barros